
Na última terça-feira a Rede Globo registrou 37,7 com pico de 39,9 pontos de audiência durante o programa Big Bother Brasil. A eliminação da participante Karol com K, teria sido a motivação desse sucesso no Ibope, que a emissora não registrava nos últimos dez anos durante a atração.
Mas esse não foi o único marco histórico apontado. A saída da “vilã” com 99,17% dos votos, recorde de rejeição e um prejuízo de imagem que podem destruir sua carreira, fez com que toda a atenção se voltasse para um novo fenômeno na sociedade: o cancelamento.
Acusada de impor pressão psicológica sobre outros colegas de confinamento, Karol perdeu milhares de seguidores nas redes sociais, além de contratos publicitários em um programa que apresentava no Canal GNT. O público por sua vez, a fim de mostrar seu descontentamento se uniu com objetivo de tirar a rapper do programa. Mas os impactos desse cancelamento ultrapassaram as telinhas. Enquanto a “mamacita” cancelava seus colegas de confinamento, aqui fora, sua carreira era dissolvida. Porém, o cancelamento ultrapassou o limite profissional e o prejuízo foi além dos números e cifras. Foram criadas diversas páginas com conteúdo ofensivos e racistas contra Karol, e sua família exposta a ameaças e represarias.
O movimento do cancelamento começou, há alguns anos, como uma forma de chamar a atenção para causas como justiça social e preservação ambiental. Foi a forma encontrada por alguns grupos na internet, de dar mais espaço a uma camada oprimida e assim garantir ações políticas de figuras públicas ou marcas famosas.
E assim, o cancelamento se tornou o grande medo do século. E não é para menos, já que observamos frequentemente empresas falindo e personalidades com carreiras destruídas por conta de posicionamentos que hoje não são mais aceitos.
Fazendo uma breve análise sobre o tema, entendo que apesar dessa cultura do cancelamento ter pautado temas importantes como racismo, LGBTfobia e misoginia, temo pelo caminho perigoso que ela está tomando. Qual é o preço que se deve pagar por um comportamento babaca? É claro que algumas atitudes são inaceitáveis, mas será que para além do cancelamento, existe um espaço para a melhora?
Cada caso deve ser analisado de uma forma, mas o grande problema é que o júri que não aceita outro juiz, está aberto e sem controle. Daí vale a reflexão sobre o próprio comportamento e lembrar que todas as pessoas são humanas e falhas, mas todo mundo tem possibilidade de melhoria se esse espaço estiver aberto.
Cancelar é impor uma morte simbólica, sendo assim, outro fator que se deve levar em consideração é a saúde mental de uma pessoa que passou por essa experiência. O “cancelado” pode apresentar transtornos de ansiedade, depressão e outros transtornos mentais.
O cancelamento deve abrir um espaço para o aprendizado. As criticas e apontamentos sempre são válidos para que a pessoa possa enxergar e refletir sobre suas ações e não atacar só por atacar. Ameaças contra sua integridade ou de sua família gera mais ódio e menos conscientização. O trabalho deve ser pela mudança e não pelo ódio.
Adênia Batista