
Em 12 de junho de 2000, durante quase quatro horas, o assaltante Sandro do Nascimento manteve dez passageiros como reféns em um ônibus da linha 174, no Rio de Janeiro. Chegou a simular a morte de uma delas, a estudante Janaína Lopes, que foi obrigada a permanecer deitada no chão do coletivo por mais de uma hora.
A agonia dos passageiros do ônibus carioca que faz a linha 174 teve início às 14h20 de segunda-feira. No bairro do Jardim Botânico, fez sinal o assaltante Sandro do Nascimento. Com bermuda, camiseta e um revólver calibre 38 à mostra, ele pulou a roleta e sentou-se próximo a uma das janelas. Vinte minutos depois, um dos passageiros conseguiu sinalizar para um carro da polícia que passava pela rua. O ônibus, então, foi interceptado por dois policiais. Nesse momento, o pânico já se havia instalado.
Willians de Moura, que na época era estudante de administração, foi o primeiro refém a ser liberado, ficando outras dez pessoas que eram todas do sexo feminino. Após a liberação de Willians, Sandro apontou a arma na cabeça de Janaína Neves e a fez escrever nas janelas, com batom, frases como: “Ele vai matar geral às seis horas” e “ele tem pacto com o diabo”.
O desfecho foi trágico. O bandido desceu do ônibus usando a professora Geisa Firmo Gonçalves como escudo. Naquele momento, o soldado do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar) Marcelo de Oliveira Santos tentou matar o sequestrador. As balas do policial, no entanto, atingiram apenas a refém, que levou ainda três tiros disparados pelo assaltante e morreu. Sandro morreu asfixiado, no interior do camburão em que era levado ao hospital Souza Aguiar. Os policiais militares – o capitão Ricardo de Souza Soares e os soldados Flávio Durval Dias e Márcio Araújo David – foram acusados de homicídio qualificado, mas, em dezembro de 2002, foram absolvidos, por quatro votos a três, pelo IV Tribunal do Júri do Rio.
Sandro do Nascimento era um dos meninos sobreviventes da chacina da Candelária, em 1993, e teve sua história contada em dois filmes: o documentário Ônibus 174, de José Padilha, e o filme de ficção Última Parada 174, de Bruno Barreto.
Fim
De acordo com o Instituto Médico Legal, Geisa foi alvejada quatro vezes. A primeira vez pela arma do policial. O que deveria ter sido o tiro letal em Sandro feriu de raspão o queixo da moça. A reação do bandido foi se abaixar, usando a jovem como escudo. Ao mesmo tempo, disparava à queima roupa atingindo o tronco e o meio das costas de Geisa.
Com sua refém morta, Sandro foi imobilizado enquanto uma multidão correu para tentar linchá-lo. Ele foi colocado na viatura com outros policiais segurando-o. Sandro foi morto por asfixia ali dentro. Segundo sua tia Julieta Rosa do Nascimento, a assistente social Yvone Bezerra e a avó Dona Elza da Silva (a única pessoa que participou de seu enterro), Sandro não era capaz de matar ninguém, mas de acordo com a polícia do Rio, Sandro tinha um comportamento nervoso e agressivo e chegou a quebrar o braço de um policial e morder outros ao tentar, supostamente, tirar uma arma deles. Após alegações de que a morte de Sandro foi ocasional, os policiais responsáveis pela morte de Sandro foram levados a julgamento por assassinato e foram declarados inocentes. Em novembro de 2001, a linha 174 mudou de número para 158, depois para 143, e em fevereiro de 2016 para Troncal 5.
Geísa Firmo Gonçalves foi enterrada em Fortaleza, CE, no cemitério do Bom Jardim. Seu enterro foi acompanhado por mais de 3.000 pessoas.
http://globotv.globo.com/rede-globo/memoria-globo/v/depoimento-roberto-kovalick-sequestro-do-onibus-174-2000/4120748/